Roberto Pino, bicampeão mundial de Parasurf, expressa sua tristeza ao ficar de fora do campeonato devido a novas regras da ISA. Foto: ISA / Sean Evans.
O brasileiro Roberto Pino, considerado o melhor surfista do mundo com nanismo, não poderá competir no Mundial de Parasurf da International Surfing Association (ISA), que ocorre em Huntington Beach, Califórnia, de 5 a 11 de novembro. Em um vídeo emocionado, Pino lamentou a sua ausência na competição, explicando que as mudanças nas regras da ISA impediram sua participação ao excluir surfistas de baixa estatura da categoria PSS1.
A categoria PSS1, anteriormente destinada a “qualquer surfista que pegasse ondas de pé, com amputação de membro superior, deficiência congênita ou equivalente, ou baixa estatura”, agora será composta apenas por atletas que têm dificuldade na parte superior do corpo. De acordo com a ISA, a decisão foi tomada para promover condições de igualdade entre os competidores, após constatar que a baixa estatura dava a Pino e outros surfistas dessa categoria uma vantagem significativa.
De acordo com a ISA, a decisão foi tomada para promover condições de igualdade entre os competidores. Foto: ISA / Sean Evans
O canal AOS Mídia contatou a ISA para entender os detalhes dessa mudança. Maureen Johnson, diretora de classificação do Mundial de Parasurf, explicou que a nova estrutura foi implementada em janeiro de 2024 para se alinhar ao Código de Classificação do Comitê Paralímpico Internacional (IPC). Embora a baixa estatura esteja entre as deficiências elegíveis do IPC, Johnson argumenta que, no parasurf, há poucos atletas com nanismo competindo.
“Eu adoraria uma categoria exclusiva para atletas de baixa estatura; no entanto, nos últimos sete anos, houve apenas quatro atletas classificados, que geralmente não competem ao mesmo tempo. No futuro, não podemos permitir que atletas de baixa estatura compitam contra os demais, pois isso não seria justo. Caso haja mais atletas internacionais com baixa estatura competindo nesse nível, poderemos reconsiderar uma categoria esportiva específica”, explicou Johnson.
Apesar de lamentar a ausência de Pino, a diretora expressou admiração pelo talento do surfista. “Fico triste, pois a cada ano é um destaque assistir Roberto Pino. Ele é um surfista incrivelmente talentoso”, concluiu.
A entidade revelou que a baixa estatura dava a Pino e outros surfistas da categoria PSS1 uma vantagem significativa. Foto: ISA / Sean Evans
Pino, que já conquistou duas medalhas de ouro e uma de prata no Mundial de Parasurf, também recebeu elogios de lendas do esporte, como Kelly Slater. Em 2022, o surfista brasileiro fez história ao alcançar duas notas 10 em uma única bateria, registrando a pontuação perfeita de 20 pontos.
As mudanças nas regras refletem os desafios de inclusão e igualdade de condições no esporte adaptado, ao mesmo tempo em que evidenciam a necessidade de maior participação de atletas com diferentes tipos de deficiência para que categorias específicas possam ser criadas.
Leia a seguir toda a explicação da diretora Maureen Johnson:
“Ader,
Fizemos algumas mudanças na estrutura de classificação do Parasurf da ISA para alinhá-la com as atualizações do IPC (Comitê Paralímpico Internacional). Todos os esportes adaptados precisam estar em conformidade com o novo Código de Classificação do IPC, que será avaliado em 2025.
Todos os esportes para pessoas com deficiência podem usar as deficiências elegíveis listadas pelo IPC, que incluem: potência muscular, amplitude de movimento (flexibilidade), deficiência de membros, deficiência de coordenação, baixa estatura, deficiência intelectual e deficiência visual.
No momento, o parasurf não está utilizando a deficiência intelectual e a baixa estatura.
Para a deficiência intelectual, não conseguimos garantir a segurança dos atletas em ondas grandes e correntes imprevisíveis ao redor do mundo.
Para baixa estatura, testamos durante alguns anos na categoria PS Stand 2 e, depois, movemos para PS Stand 1. Em ambas as situações, atletas de baixa estatura acabaram levando medalhas, principalmente por não haver uma condição igual para competir com os outros surfistas. Eu adoraria uma categoria exclusiva para baixa estatura, mas, nos últimos sete anos, tivemos apenas quatro atletas classificados, e normalmente não competem ao mesmo tempo. No futuro, não podemos permitir que atletas de baixa estatura compitam com outros surfistas com deficiências físicas, pois isso não é justo. Caso tenhamos mais atletas internacionais de baixa estatura competindo nesse nível, poderemos considerar uma nova categoria.
Essa mudança também foi aplicada ao Adapted World Tour e anunciada em janeiro de 2024. Enviamos e-mails para as Federações Nacionais durante o verão de 2024 para garantir que todos soubessem das alterações antes das competições nacionais.
Estou triste, pois a cada ano é um destaque assistir Roberto Pino – ele é um surfista incrivelmente talentoso!
Por favor, avise se tiver mais alguma dúvida.
Obrigada.”